sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Primeira Parte: Georgeana - C1

Capítulo 1


Quando ele tinha 14 anos de idade, já não via mais motivos em viver, ou fazer qualquer outra coisa em sua vida. Ia mal nos estudos, havia acabado com a namorada, estava sem dinheiro e não andava muito sociável com ninguém. A única emoção que havia tido nos últimos meses, tinha sido ter saído com uma mulher 30 anos mais velha.
Tudo ia de mal a pior. Tudo estava cinza em sua vida.
Nas noites solitárias, dormia cedo. Nas noites frias, fugia de casa. Estava tão mal, que nem seus amigos o reconheciam mais. Estava diferente, distante, sombrio. Tudo que ele queria e buscava, era ser feliz. Mas parece que esse não era o plano de Deus para ele. E foi justamente nessa época, que começou a ter suas primeiras crises de fé, que culminariam no seu ateísmo.
Para se distrair, de vez em quando, ia à casa de sua madrinha e passava o final de semana lá. Quando ia, fugia um pouco de sua realidade mórbida e sem razão. Lá, conheceu duas meninas: por uma, se apaixonou, mas não foi correspondido. Com a outra, ainda deu uns beijos, mas não durou mais que um dia. E assim ele seguia com sua infeliz vida e infeliz solidão.
Acontece que, como todo ser humano, ele também poderia entrar em depressão. E foi isso que aconteceu! Após longos meses tentando ser feliz e ficar bem, ele caiu. Foi a sua primeira grande queda. Desistiu de sair. Só ia a escola, abandonou o time de futebol, abandonou as aulas de reforço que dava na escola. Ele só queria ficar só. Inteiramente só.
Até para a casa de sua madrinha, que era o que mais ele gostava de fazer, ele deixou de ir. Isolou-se de uma maneira tão grande, que mal via os próprios irmãos. Estava na fossa. Estava triste demais para viver. E foi exatamente isso que pensou: decidiu morrer. Claro que considerava isso uma atitude fraca; mas era só nisso que pensava. Um dia, enquanto seu irmão estava na casa de sua madrinha, seu pai estava viajando a trabalho, seus outros irmãos mais novos dormindo e sua mãe também, resolveu dar fim a sua vida. Amarrou uma corda nos caibros da casa.
Precisava antes, se certificar que ninguém o iria impedir, então, apagou as luzes para dar a impressão de que estava dormindo, verificou seus irmãos e mãe, e por fim, desligou o celular.
Feito tudo isto, subiu na cômoda em seu quarto, e se preparou para pôr a corda em seu pescoço, e por fim, dar cabo de sua existência inútil. Quando colocara uma parte da corda em seu pescoço, seu telefone começa a tocar. Ele ficou sem entender aquilo: como poderia um aparelho desligado, funcionar? Rapidamente, pegou o celular e o desligou novamente. Dessa vez, retirou sua bateria para ter certeza. Pôs o celular em um bolso, e sua bateria em outro.
Após isso, voltou ao seu objetivo primário: retirar sua própria vida. Subiu novamente na cômoda, e quando a corda estava em volta de seu pescoço, algo assustador aconteceu: seu celular começou a tocar novamente. Passou uns segundos parado tentando entender aquilo. Como isso era possível? O celular estava sem bateria, como seria possível que aquilo estivesse acontecendo?
Resolveu atender logo e despachar quem quer que fosse afim de não acordar sua mãe e seus irmãos. Tirou o celular do bolso e o atendeu. Do outro lado, uma voz feminina falava, perguntando se ele havia ligado para ela durante o dia. Era quase meia-noite, quem diabos ligaria uma hora dessas perguntando tal coisa? Educadamente, respondeu que não. Disse que havia passado o dia com o celular, mas não havia ligado para ninguém. A voz feminina do outro lado da linha insistiu que havia recebido uma chamada daquele número, por volta de dez da manhã.
Novamente, respondeu ele que não havia ligado pra ninguém. Resolveu perguntar quem era. Ela se chamava Georgeana e disse morar em Natal-RN. Ele disse como se chamava, e disse morar em Mossoró-RN. Após isso, iniciaram uma longa conversa, que duraria até uma e meia da manhã, e que teria como resultado final da noite, uma morte a menos, e o início de mais uma longa história em sua vida...

Primeira Parte: Georgeana - C2

Capítulo 02: Os Meses Seguintes e o Primeiro Encontro

Por dias a fio, se falavam todos os dias. Ele, sempre procurou dizer a ela o quanto era grato por ela ter aparecido em sua vida. Ela sempre o mantinha bem e sempre dizia o quanto ele era especial para ela. Passadas algumas semanas, ela já confiava nele, mais do que em qualquer outra pessoa e ele estava a cada dia mais apaixonado por ela.
Mantinham contato no mínimo duas vezes por dia, mas as melhores conversas que tinham eram sempre depois das dez da noite. Ele, com apoio dela, conseguiu retomar as aulas, a praticar esportes e a interagir com as pessoas. Não havia nada que os impedisse de ser feliz, exceto a distância que os separava.
Mas ambos sabiam, que a qualquer momento, iriam se ver, e que no céu, anjos tocariam belas canções para abençoar o amor dos dois.
Nessa dúvida se mantiveram por meses. Mas sempre conversavam várias horas e estavam a cada dia que se passava, mais apaixonados um pelo outro. Até então, não haviam discutido e nem brigado uma vez sequer. Tudo ia bem, até que um dia, o inesperado aconteceu.
Estavam falando sobre a dificuldade de manterem um relacionamento a distância. Ele estava stressado por demais com a escola e algumas atividades. Ela parecia não querer ouvir nada do que ele dizia. Foi aí, que tiveram a sua primeira briga. A noite de ambos acabou naquele momento, como se nada mais importasse e fosse acontecer. E o pior, é que ambos disseram o que queriam e ouviram o que não queria também.
Ele, de novo, teve vontade de se matar e deixar sua vida para trás. Mas no fundo sabia, que por pior que tivesse sido a briga dos dois, uma hora eles se acertariam e as coisas voltariam a ser como eram antes. Se não, melhores.
Decidiu dar a si mesmo mais uns dias de solidão para que pudesse pensar melhor em tudo que foi dito, e analisar a situação de uma perspectiva diferente. Tudo que ele tinha de fazer era ser paciente e saber esperar a hora em que tudo voltasse ao normal.
Depois de uns dias sem qualquer tipo de comunicação, ele decidiu dedicar todo seu tempo a navegar na internet para ver se a esquecia um pouco. A distância era ruim e a ausência dela também. Passou horas navegando na internet e depois foi para casa.
No mesmo dia, recebeu a ligação que tanto esperava: Georgiana! Foi uma ligação rápida, mas o suficiente para deixá-lo em choque. Depois de tantos meses, ela estava indo para a cidade dele e o queria conhecer. Como ele havia gasto todo seu dinheiro com internet, iria ter que dar um jeito para que isso acontecesse. Pois foi exatamente isso que ele fez. No outro dia, ele estava indo, esperançoso, para encontrar aquela a quem tanto amava...

Depois de tão perturbadora ligação, decidiu que iria sim ver a sua amada. Mas não queria ir sozinho. Pediu a um amigo que o acompanhasse. Sendo assim e com tudo acertado, partiram a noite em busca de uma pessoa, a qual não fazia a menor ideia de como fosse.
Ele preferiu chegar uma hora antes que ela no local marcado. Ficou lá e esperou. Eis que de repente, seu celular toca. Era ela! Ele perguntou como ela estava vestida e marcou um canto para se verem. Procurou o canto mais central do local em que estavam. De longe, ele poderia avaliar quem era ela, antes de fazer uma abordagem direta.
O interessante nessas coisas, é que quando se está ansioso por algo, as coisas parecem brincar com a pessoa. No caso dele, todas as mulheres do local, estavam com o mesmo padrão de roupas que ela havia dito a ele q estaria. Mas ao longe, sentiu o coração acelerar ao ver uma loirinha de um metro e cinquenta e três de altura, seios fartos e, divinamente bela, procurando por alguém.
Ele sabia que era ela. Sentia isso. Então, resolveu deixar sua zona de conforto e ir de encontro aquele anjo. Chegou próximo dela e se apresentou. Nesse instante, o tempo parou para ele. Ela era muito mais do que ele esperava. Era muito mais do que poderia imaginar. Apenas deixou seus instintos o guiarem.
Estava tudo perfeito. Ela tinha o abraço mais aconchegante que ele havia provado até então. Tinha os olhos mais doces e sinceros que ele já havia encarado. Só havia um problema: tamanha exuberância o havia posto em estado de choque. Mal conseguia falar ou pensar em nada. Isso seria um problema. Precisava pensar em algo rápido. Mas não conseguia. Decidiram entrar em uma festa que estava rolando.
Para ele, aquele momento foi mágico. Estava com alguém que gostava com todas as forças, aproveitando uma noite juntos, depois de tanto tempo separados. Sua mão estava suando, e ele tentou esconder isso com as mangas de sua camisa; em vão. Ela percebeu e tirou as mangas da camisa da mão dele. Estavam de mãos dadas. Entraram os três na festa: ele e seu amigo, e ela, que segurava a mão dele e seguia na frente. Depois de alguns minutos andando, chegaram onde a irmã dela estava.
Depois disso, seu amigo teve de ir embora. Agora sim ele estava em pânico. Estava sozinho com ela, e não sabia o que fazer. Decidiu de novo, se deixar levar. Foram para a mesa onde a família dela estava, e lá ficaram a noite toda. Ele estava muito vergonhoso e sem saber o que dizer. Só segurava a mão dela e dava carinho. Depois de três horas, a festa acabou. Ela tinha que ir embora. Ele a acompanhou até o carro em que ela ia. Lá chegando, depois de horas, finalmente um beijo aconteceu. Era do jeito que ele sempre sonhou. Ainda ganhou umas mordidas nos lábios.
Despediram-se e marcaram de conversar no outro dia e ver no que dava. Depois que o carro saiu levando sua amada, ele ficou com o gosto dos lábios dela impregnado nos seus próprios lábios. Quando não mais a via, pegou um moto-táxi e seguiu viagem para casa.
No outro dia, esperou pela ligação dela, mas nada aconteceu. E assim se seguiu por quase uma semana. Ele sabia que para ela, tudo tinha sido um desastre. Mas não podia mais concertar o erro que cometeu. Ele passou toda a noite com a mulher que amava, e nada fez, a não ser o beijo que ela o roubou no fim da noite.
Mas ele também sabia que ela não deveria sumir assim. Parou de pensar um pouco nela. Parou de escrever poesias para ela. Estava sofrendo, mas não queria mais ser fraco. Decidiu não ligar a não ser que ela o ligasse. E assim se manteve por uns dois meses.
Após esses dois longos meses, ela resolveu ligar. Ele não queria atender de início, mas acabou cedendo. Conversaram por horas a fio novamente, assim como era no início. Mas de alguma forma, ele sabia que tudo estava diferente. Apenas não mencionou. E essa parte que havia mudado, foi o fator determinante para o fim dessa história que durou por quase dois anos aos trancos e barrancos...