Capítulo 1
Quando ele tinha 14 anos de idade, já
não via mais motivos em viver, ou fazer qualquer outra coisa em sua vida. Ia
mal nos estudos, havia acabado com a namorada, estava sem dinheiro e não andava
muito sociável com ninguém. A única emoção que havia tido nos últimos meses,
tinha sido ter saído com uma mulher 30 anos mais velha.
Tudo ia de mal a pior. Tudo estava cinza
em sua vida.
Nas noites solitárias, dormia cedo. Nas
noites frias, fugia de casa. Estava tão mal, que nem seus amigos o reconheciam
mais. Estava diferente, distante, sombrio. Tudo que ele queria e buscava, era
ser feliz. Mas parece que esse não era o plano de Deus para ele. E foi
justamente nessa época, que começou a ter suas primeiras crises de fé, que
culminariam no seu ateísmo.
Para se distrair, de vez em quando, ia à
casa de sua madrinha e passava o final de semana lá. Quando ia, fugia um pouco
de sua realidade mórbida e sem razão. Lá, conheceu duas meninas: por uma, se
apaixonou, mas não foi correspondido. Com a outra, ainda deu uns beijos, mas
não durou mais que um dia. E assim ele seguia com sua infeliz vida e infeliz
solidão.
Acontece que, como todo ser humano, ele
também poderia entrar em depressão. E foi isso que aconteceu! Após longos meses
tentando ser feliz e ficar bem, ele caiu. Foi a sua primeira grande queda.
Desistiu de sair. Só ia a escola, abandonou o time de futebol, abandonou as
aulas de reforço que dava na escola. Ele só queria ficar só. Inteiramente só.
Até para a casa de sua madrinha, que era
o que mais ele gostava de fazer, ele deixou de ir. Isolou-se de uma maneira tão
grande, que mal via os próprios irmãos. Estava na fossa. Estava triste demais
para viver. E foi exatamente isso que pensou: decidiu morrer. Claro que
considerava isso uma atitude fraca; mas era só nisso que pensava. Um dia,
enquanto seu irmão estava na casa de sua madrinha, seu pai estava viajando a
trabalho, seus outros irmãos mais novos dormindo e sua mãe também, resolveu dar
fim a sua vida. Amarrou uma corda nos caibros da casa.
Precisava antes, se certificar que
ninguém o iria impedir, então, apagou as luzes para dar a impressão de que
estava dormindo, verificou seus irmãos e mãe, e por fim, desligou o celular.
Feito tudo isto, subiu na cômoda em seu
quarto, e se preparou para pôr a corda em seu pescoço, e por fim, dar cabo de
sua existência inútil. Quando colocara uma parte da corda em seu pescoço, seu
telefone começa a tocar. Ele ficou sem entender aquilo: como poderia um
aparelho desligado, funcionar? Rapidamente, pegou o celular e o desligou
novamente. Dessa vez, retirou sua bateria para ter certeza. Pôs o celular em um
bolso, e sua bateria em outro.
Após isso, voltou ao seu objetivo
primário: retirar sua própria vida. Subiu novamente na cômoda, e quando a corda
estava em volta de seu pescoço, algo assustador aconteceu: seu celular começou
a tocar novamente. Passou uns segundos parado tentando entender aquilo. Como
isso era possível? O celular estava sem bateria, como seria possível que aquilo
estivesse acontecendo?
Resolveu atender logo e despachar quem
quer que fosse afim de não acordar sua mãe e seus irmãos. Tirou o celular do
bolso e o atendeu. Do outro lado, uma voz feminina falava, perguntando se ele
havia ligado para ela durante o dia. Era quase meia-noite, quem diabos ligaria
uma hora dessas perguntando tal coisa? Educadamente, respondeu que não. Disse
que havia passado o dia com o celular, mas não havia ligado para ninguém. A voz
feminina do outro lado da linha insistiu que havia recebido uma chamada daquele
número, por volta de dez da manhã.
Novamente, respondeu
ele que não havia ligado pra ninguém. Resolveu perguntar quem era. Ela se
chamava Georgeana e disse morar em Natal-RN. Ele disse como se chamava, e disse
morar em Mossoró-RN. Após isso, iniciaram uma longa conversa, que duraria até uma
e meia da manhã, e que teria como resultado final da noite, uma morte a menos,
e o início de mais uma longa história em sua vida...